quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Exposiçao "Reciclagem... Agora e Sempre!" - De 13 de Fevereiro a 6 de Março de 2009, Pavilhão de Feiras e Exposições de Penafiel

VII Ciclo de Apresentações Artísticas, Câmara Municipal de Penafiel





Reciclagem... Agora e sempre!

Reciclagem... do interior, do exterior, do ambiente... Agora e sempre!
Reciclagem... de mim, de ti, de todos... Agora e sempre!
Reciclagem... do uso, do abuso, do desuso... Agora e sempre!
Reciclagem... do papel, do plástico, do vidro e de tudo... Agora e sempre!
Reciclagem... do ar, do mar, da Terra e dos Homens... Agora e sempre!
Reciclagem... usar, transformar, recriar e voltar a usar... Agora e sempre!
Reciclagem... usar, rasgar, colar, pintar... e voltar a olhar....

Agora e sempre!

Zélia Rocha







“Na Rota das Estrelas”
2008
105x205cm, colagem e assemblage sobre cartão de embalagem














“Anjo Azul”
2008
130x98 cm, acrílico sobre cartão publicitário

sábado, janeiro 10, 2009

V Bienal de Arte Jovem de Penafiel - 2008

De 21 de Novembro a 31 de Dezembro de 2008, Pavilhão de Feiras e Exposições de Penafiel.
Participação com as obras "Infante Dom Henrique" e "Luís Vaz de Camões".



sexta-feira, janeiro 09, 2009

Exposiçao "Diferenças" - Centro Unesco do Porto - 2007 - V Bienal Internacional de Arte Jovem de Vila Verde

Diferenças: do escuro para o claro, do sombrio para o luminoso, do terrestre para o aborígene, da regra para a excepção!
Sem diferenças: na monotonia vive a melancolia, sem nada a assinalar, por nada conseguir destacar num universo sem opostos, sem movimento, estagnado no tempo, á espera da pedra angular, que a faça despertar do sono do absoluto total!
Com diferenças: na relatividade diversa vive o antagonismo; o belo emerge do feio, a saúde da doença, a tranquilidade da inquietação, o sorriso das lágrimas. Nesse mundo de dualidade, do pólo negativo se chega ao positivo e vice versa, numa espiral evolutiva, até que tudo seja experienciado, assimilado, resgatado e transcendido!
Das diferenças se chega á neutralidade e á libertação, ao caminho do meio, que permite passar, mas sem nunca tocar, entre os dois extremos: o negativo e o positivo!

Zélia Rocha



quinta-feira, janeiro 08, 2009

Exposiçao "A Historia dos Pontos" - Anje - Biblioteca Florbela Espanca - Matosinhos - Clinica de Saude Integral - Porto - 2006 - 2007



Era uma vez um Ponto.
Ao princípio o Ponto nem sabia que era um ponto… Depois, com o passar do tempo, começou a tomar consciência de que realmente era um ponto… Então, ficou muito contente… e nesse contentamento desenvolveu-se e fortaleceu-se muito… Porém, com o passar do tempo, começou a ficar descontente… Afinal, por mais que se desenvolvesse e se fortalecesse não passava de um simples ponto… E, nesse descontentamento descontente, olhou para o Alto, e viu outro ponto, e nesse instante aconteceu um milagre, pois os dois pontos uniram-se e formaram uma recta sem princípio nem fim, que continha uma infinidade de pontos.
Ao princípio a Recta nem acreditava que era uma recta… Depois, com o passar do tempo, começou a tomar consciência de que realmente era uma recta… Então, ficou muito contente… e nesse contentamento desenvolveu-se e fortaleceu-se muito… Porém, com o passar do tempo, começou a ficar descontente…. Afinal, por mais que se desenvolvesse e se fortalecesse não passava de uma simples recta. A recta já se tinha esquecido de que tinha sido um ponto, e que agora continha uma infinidade de pontos… Então, nesse descontentamento descontente, a recta olhou para o Alto, e viu um ponto, e nesse instante aconteceu um milagre, pois a recta uniu-se ao ponto e formou-se um plano, que continha uma infinidade de rectas em todas as direcções.



Ao princípio o Plano nem acreditava que era um plano… Depois, com o passar do tempo, começou a tomar consciência de que realmente era um plano… Então, ficou muito contente… e nesse contentamento desenvolveu-se e fortaleceu-se muito… Porém, com o passar do tempo, começou a ficar descontente… Afinal, por mais que se desenvolvesse e se fortalecesse não passava de um simples plano. O plano já se tinha esquecido de que tinha sido uma recta, e que agora continha uma infinidade rectas; cada recta já se tinha esquecido de que tinha sido um ponto, e que agora continha uma infinidade de pontos…. Então, nesse descontentamento descontente, o plano olhou para o Alto, e viu um ponto, e nesse instante aconteceu um milagre, pois o plano uniu-se ao ponto e formou-se um espaço, que continha uma infinidade de planos cada qual com uma inclinação diferente.
Ao princípio o Espaço nem acreditava que era um espaço… Depois, com o passar do tempo, começou a tomar consciência de que realmente era um espaço… Então, ficou muito contente… e nesse contentamento desenvolveu-se e fortaleceu-se muito… Porém, com o passar do tempo, começou a ficar descontente… Afinal, por mais que se desenvolvesse e se fortalecesse não passava de um simples espaço. O espaço já se tinha esquecido de que tinha sido um plano, e que agora continha uma infinidade de planos; cada plano já se tinha esquecido de que tinha sido uma recta, e que agora continha uma infinidade de rectas; cada recta já se tinha esquecido de que tinha sido um ponto, e que agora continha uma infinidade de pontos… Então, nesse descontentamento descontente, o espaço…



Moral da História:

O Homem no planeta Terra encontra-se actualmente neste estado de descontentamento. Segue-se olhar para o Alto, ver um ponto, e deixar que o milagre aconteça.

Explicações:

Cada ponto corresponde a um estado de consciência.
O ponto tem dimensão zero, a recta dimensão um, o plano dimensão dois e o espaço dimensão três.
Os pontos foram todos criados ao mesmo tempo, mas o Homem toma consciência deles sequencialmente, ou seja, uns a seguir aos outros. A reunião de todos os pontos, ou de todos os estados de consciência, é Deus.
O olhar para o Alto corresponde à transcendência do estado actual. A descoberta de um novo ponto implica a criação de um novo estado, que contém uma infinidade de estados imediatamente anteriores. Não há como voltar atrás, o milagre já aconteceu. Depois, é preciso tomar consciência do facto, o que demora algum tempo. Seguidamente, virá o desenvolvimento ou expansão desse estado até aos seus limites naturais, e por fim o descontentamento, o que permitirá ao Homem transcender o estado em que se encontra e tomar consciência do seguinte. É assim que a Humanidade evolui por todo o Universo.

Conclusão:

O estado que se segue ao Homem no planeta Terra é a tomada de consciência do Mundo Espiritual ou Quarta Dimensão.


Anjo Azul

quarta-feira, janeiro 07, 2009

Exposiçao "A Terra - O Brinquedo Maravilhoso" - CSI - Biblioteca Municipal de Espinho - 2005



A décima segunda exposição individual de pintura do Vincent, intitulada “A Terra - O Brinquedo Maravilhoso”, é dedicada ao Homem, à Natureza e ao nosso planeta. Este já foi o tema da sua sétima exposição, “À Descoberta de um Mundo”, mas surge agora mais aprofundado e com facetas inexistentes na mostra anterior.

A presente exposição reúne obras a acrílico, sobre tela e cartolina, datadas de Fevereiro a Agosto de 2004 e apresenta-se dividida nas seguintes séries: “Flores da Natureza”, “Mares”, “Reino Vegetal”, “Fúria da Natureza”, “Guerra”, “Agonia da Natureza”, “Operação Resgate”, “Reconstrução” e “A Nova Terra e O Novo Homem” e pretende narrar a transformação que levará a humanidade e o planeta do seu estado actual até a um estado novo.



Esta mostra começa por recordar o esplendor e a vivacidade da Natureza de outrora em obras plenas de cor, vida e exuberância, tão características da pintura do Vincent. Surgem assim os trabalhos: “Flores”, “Deus Marinho”, “Floresta Amazónica” e “Fogo Purificador”, entre outros. Seguidamente, retrata o modo como o meio ambiente se foi degradando pela acção dominadora do Homem. As cores vivas dos quadros vão-se apagando, tornando-se cada vez mais ténues e escuras, criando composições como: “Flor Nocturna”, “O Sacrifício das Árvores”, “Cinzas” e “Mar Morto”.

A falta de resposta da humanidade à crise ambiental em que o planeta se encontra, nomeadamente a contínua emissão para a atmosfera de gazes com efeito de estufa e o consequente aumento da temperatura global do planeta, vai provocar, cedo ou tarde, o desequilíbrio extremo da Natureza, traduzido por todo o tipo de catástrofes e epidemias. Assim, surgem as obras: “Tornado de Sangue”, “Tempestade de Areia”, “Chuva Torrencial”, “Seca Extrema”, “Tsunami”, “Subida das Águas” e “Arca de Noé”. Sabendo que a Terra não é um ser isolado, mas sim parte integrante do Universo, o seu desequilíbrio pode ter como consequência algo inesperado traduzido pelas obras dessa série devotadas à “Colisão da Bola de Fogo”.



O Homem continua preso na inércia dos seus hábitos, querendo manter um modo de vida que conduzirá a Terra e, por consequência, a si próprio, à morte. A recusa do controle da natalidade, a concentração demográfica em grandes metrópoles, o atraso no desenvolvimento de energias renováveis e não poluentes e na reciclagem rigorosa do lixo são exemplos de atitudes que há muito deveriam ter sido alteradas.



Quando os recursos naturais escassearem, nomeadamente o petróleo e a água, a guerra pelo domínio do pouco que resta neste nosso planeta será para alguns considerada legítima e consequência inevitável da lei da sobrevivência. É o que se traduz nas obras “Anjo Negro”, “Infeliz Lançamento”, “Os Dados Foram Lançados” e “Força Destruidora”.
Depois desse pontapé final, a série “Agonia da Natureza” retrata o que se passará quando o ponto de não retorno for atingido. Contém quadros chocantes, intitulados: “O Dia Seguinte”, “Homem Moribundo”, “A Crucificação da Terra”, “A Crucificação do Homem” e “O Fim Deste Mundo”.

Felizmente que a história não acaba assim. Retirados os sobreviventes da superfície da Terra pela “Operação Resgate” segue a “Renovação do Planeta”, onde as tintas negras das últimas séries são progressivamente drenadas nos quadros: “Reciclagem dos Escombros I e II”, “Reconstrução” e “Regeneração da Natureza”.

Por último, esta exposição termina com uma nota de esperança e alegria. Depois das difíceis dores do parto, nascem “A Nova Terra e O Novo Homem”, na qual as cores vivas e luminosas do Vincent voltam a estar patentes em obras plenas de esplendor, como a “Ressurreição” e “O Brinquedo Reconstruído”.

Possa esta exposição contribuir para uma maior tomada de consciência da situação actual do nosso planeta e do Homem, e do futuro próximo que se avizinha, de modo a que sejam cada vez mais numerosos aqueles que participem da fundação do novo mundo.


Zélia Rocha

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Exposiçao "Por Mares Nunca Dantes Navegados" - Universidade Moderna do Porto - 2004



O tema dos Descobrimentos Portugueses tem vindo a ser tratado ao longo da ainda curta, mas intensa, carreira artística do Vincent. A presente exposição intitulada “Por Mares Nunca Dantes Navegados” reúne obras datadas de 2001 a 2004, de várias técnicas e dimensões, que permitirão ao visitante observar, entre outras coisas, o percurso evolutivo do Vincent desde que começou a pintar até aos dias de hoje.

Esta exposição consiste numa ilustração, sui generis, do texto “Os Lusíadas”, do nosso muito querido e amado Luís Vaz de Camões, cujo nome é o título da obra que inaugura esta colecção de 19 quadros, obra essa, em que o maior poeta português surge posicionado de lado exibindo a pála no olho direito que perdeu em acidente ou combate, por terras do Norte de África, por 1549.



A viagem da descoberta do caminho marítimo para a Índia, com início em 1497, pelos navegadores portugueses Vasco da Gama, seu irmão Paulo da Gama, Nicolau Coelho e Gonçalo Nunes, é a epopeia dos Lusíadas, obra que Camões dedica, com grande pompa e aparato ao Rei de Portugal, o jovem Dom Sebastião, tragicamente desaparecido no célebre desastre de Alcácer Quibir, em 1578. Esta dedicatória é assinalada, nesta exposição, pelo segundo quadro, que retrata El-Rei Dom Sebastião montado a cavalo. O extraordinário desta obra é a forma como é conseguida a aparência do antigo, apresentando uma imagem quase imperceptível, como que apagada ou corroída pelo tempo.

O Poeta acompanha os feitos e peripécias dessa famosa viagem, e muito especialmente os fenómenos naturais, de elementos mitológicos greco-latinos, como mandavam as exigências do género épico. Assim, logo nos inícios do primeiro canto, estando já as nossas caravelas bem lançadas na costa africana, eis que os deuses do Olimpo se reúnem para decidir quanto ao destino das cousas futuras do Oriente. Reza Camões no seu Poema que, em tal discussão, muito por nós partido tomou Vénus, por se encontrar enamorada da alma lusitana. Foi, pois, com o auxílio da deusa do amor e da beleza, que a lenda diz ter sido criada a partir da espuma do mar, que os nossos navegadores puderam avançar ao longo de mares desconhecidos, vencendo correntes, tempestades e infortúnios.



O Vincent invoca a Deusa dos Descobrimentos em quatro obras, todas elas representando com clareza, mas também com subtileza, uma imagem feminina de formas sensuais, que surge, ora como que projectada pelo Sol nas águas marinhas, ora envolta em véus de espuma transparente. As embarcações dos nossos navegadores, surgem pacíficas, na obra, em tons de negro e azul, intitulada “Caravelas na Escuridão da Noite”, e ainda na composição “Nau Vermelha”. Os mares, com as suas correntezas, são personificados de forma simples, mas plena de autenticidade, no quadro “Oceanos”.





A nossa frota incluía, na sua tripulação, homens de variados e nobres ofícios. Foram escolhidos os melhores comandantes, requisitados os melhores pilotos, selecionados astrónomos, combatentes, diplomatas, homens do clero, intérpretes e muitos outros, que as exigências da viagem assim mandavam. Não nos esqueçamos, porém, do simples marinheiro ou soldado que, tal como Camões, serviu o Reino, por vezes a troco da liberdade de que algum infortúnio da vida o privara, com a força de quem, por tudo ter perdido, tudo de si mesmo entregava.

Tal viagem exigia algumas paragens obrigatórias, para reabastecimento de provisões e reparo da frota. Apesar de bons conhecedores, na época, da costa africana, o necessário entendimento com os nativos dessas paragens, de cultura, religião e tradições diferentes das nossas, nunca foi tarefa fácil e exigiu aos nossos navegadores cúmulos de diplomacia e riscos por vezes fatais. Além de tudo, uma das maiores missões do Reino consistia na evangelização desses povos, na expansão do cristianismo pelo mundo inteiro.



Na obra intitulada “África Minha”, uma das mais significativas desta mostra de pintura, surge, com surpreendente rigor, o mapa do continente africano representado a negro, lembrando os mapas e rotas que, com todo o empenho, se aprimoravam ao longo destas viagens.

O quadro, em tons de ocre e ouro, “A Crucificação”, onde figura finamente desenhado Cristo crucificado, invoca a evangelização portuguesa, assim como a fé e a confiança dos servidores do Reino no Filho de Deus na Terra, como provam as inúmeras vezes em que os nossos navegadores, no Poema, recorrem à Sua intervenção, nas aflições dessa epopeia.

Lembrando ainda os mapas existentes na altura, a obra “Mapa Hipotético” exibe um exuberante emaranhado de oceanos, lagos e continentes, mostrando bem quão longe estavam aqueles mapas dos que nós, na nossa época, possuimos.

Não se pode tratar o tema dos Descobrimentos sem citar com a devida pompa e circunstância as tempestades e os naufrágios, pesadelos de todos os que por esses mares navegaram, que ceifaram a vida de tantos portugueses, tendo por pouco sido o nosso Poeta um deles, quando na costa de Camboja, por 1560, junto à foz de Mecom, quase que se perdeu no mar, conseguindo, a muito custo, salvar a si e à sua obra, “Os Lusíadas”. Reza Camões que também Vasco da Gama e a sua frota esteve a pontos de se perder muito próximo do fim do seu itinerário. Essa tempestade, eloquentemente narrada pelo génio da literatura portuguesa, é acompanhada, nesta exposição, pelos quadros do Vincent “Tempestade”, “Nau Naufragada”, “Noite Escura” e “Relâmpados”.



Mas quis o Criador que a frota se salvasse, e que a seu bom porto chegasse, o navegador e a sua tripulação que, vislumbrando a prometida Índia, se prostraram com os joelhos no chão e as mãos aos céus, agradecendo a enorme graça recebida.

Vasco da Gama é retratado na obra “O Navegador e a Tromba Marítima”, onde surge à esquerda, em primeiro plano, tendo como pano de fundo, à direita, uma grande cascata, em alusão às ondas gigantescas, que a sua caravela, com éxito, torneou. A Índia surge no quadro “Um Novo Céu e Uma Nova Terra” envolta em brumas azuis e rosa, pois, segundo o nosso Poeta, foi de rosas que os cabelos enfeitaram as ninfas que, ao amanhecer; a tormenta, no mar, acalmaram.

Esta singular exposição inaugura, a 10 de Junho do ano de 2004, dia de Portugal, aniversário da morte de Camões, que morreu num hospital, em 1579, sem sequer possuir um lençol para se cobrir, pois de seu nada tinha, a não ser a missão cumprida, que é a maior riqueza que se pode levar desta vida.



Na Sacristia da Capela de Nossa Senhora das Dores e de São José, no Porto, esta exposição encerra com o quadro “Portugal”, onde o mapa do nosso país é pintado a azul e rosa triunfantes, lembrando a todos os portugueses que outrora este povo, por mares nunca dantes navegados, descobriu novas terras e novas gentes, dando assim novos mundos ao Mundo.

É, de facto, de espantar, que tamanha façanha tenha sido conseguida por tão pequeno país. De espantar é, igualmente, que o Vincent, criança de tenra idade, de nove anos apenas, além de tudo autista, possa assim pintar, cousas de tão graúda gente. Mas, o Criador tem destes caprichos… entregar grandes feitos a pequena gente!


Zélia Rocha

domingo, janeiro 04, 2009

Exposiçao "O Presepio de Belem" - CTEC - Universidade Fernando Pessoa - Clinica de Saude Integral - Porto - Galeria Arca das Letras -Gondomar - 2003



Conto de Natal


Era uma vez um menino de oito anos, que dava pelo nome de Vincent. Não era um menino como os outros. Diziam que vivia num mundo à parte, e que sofria de uma doença com um nome esquisito… síndrome de espectro autista.
Esse menino adorava pintar.
A pintura era a sua forma de comunicar aos outros tudo aquilo que lhe ia na alma, e que ele não podia transmitir por palavras. Um mundo de cor, de imagens em movimento, de personagens e decors imaginados, mas mais reais que a realidade do comum dos mortais.
Muitos pensavam que ele não compreendia o que o rodeava, mas estavam completamente enganados. O Vincent percebia o que todos viam e aquilo que só poucos tinham a sensibilidade para captar.
Sempre estive com o Vincent e assisti ao desenrolar dos seus ainda poucos, mas intensos, anos de vida marcados pela doença e por muita pintura.
A sua mãe rezava pela sua cura e ensinava o Vincent a rezar.



Foram os dois a Fátima, em peregrinação, duas vezes, acompanhados pelo pai do Vincent. Na primeira vez, tinha o Vincent três anos, e na segunda, quatro. Na primeira viagem, sua mãe consagrou o seu filho à Virgem suplicando-lhe que o curasse. A segunda viagem fez parte da promessa, que a sua mãe tinha formulado da primeira vez em Fátima e ocorreu em agradecimento de uma grande graça concedida ao Vincent. Tal promessa consta de uma terceira parte que virá a ser cumprida depois do Vincent começar a falar.



O Vincent gostou muito de Fátima. Adorou a procissão das velas, os cânticos, o badalar dos sinos e todo o ambiente de devoção. Achou a imagem da Virgem muito simpática e apreciou a recitação do terço em várias línguas. Conheceu toda a história de Fátima no Museu de Cera. Felizmente, os pais lhe ofereceram-lhe uma cassete vídeo sobre Os Três Pastorinhos, que o Vincent viu e reviu dezenas de vezes.
Todos os anos, o Vincent assistia, pela televisão, às cerimónias de Fátima do mês de Maio, recordando com saudade os momentos que lá tinha passado com os pais, e esperando pacientemente pela terceira vez que iria lá voltar.

A mãe do Vincent falava-lhe muitas vezes de Jesus e de sua Mãe Maria. Todos os dias rezava o terço meditado com o Vincent, relembrando os momentos principais da vida de Cristo. O Vincent sabia de cor todos os mistérios. Como a sua mãe também lia a Bíblia diariamente, o Vincent conhecia os episódios mais importantes do Antigo e do Novo Testamento. Mas a parte que ele preferia dizia respeito a Moisés, quando da travessia do Mar Vermelho pelo povo hebreu. No filme “Moisés, O Príncipe do Egipto”, quase que colava a cara à televisão durante a cena da “Separação das Águas”.



Para mostrar à sua Mãe, e a todos que compreendia tudo aquilo que ela lhe contava, o Vincent decidiu pintar sobre a vida de Jesus, de Maria e de Moisés. Traduziu em quadros as estâncias do terço que mais o impressionaram, como a “Anunciação”, “A Apresentação do Menino no Templo”, ou ainda a “Coroação de Espinhos”, a “Crucificação” e o “Calvário”. Invocou o “Único Mandamento” e o “Cálice da Aliança”. Retratou “As Três Divinas Pessoas”, e “O Divino Mestre”. Interpretou a “Súplica do Anjo”, e revelou o “Anjo Azul” e o “Anjo Vermelho”. Por fim, mostrou o que há-de vir… a “Purificação”, o “Homem Cósmico”, “Um Novo Céu e Uma Nova Terra”, um novo Mundo… de Paz, de Amor, onde a doença e o ódio não existem.

E foi assim que o Vincent realizou as vinte e seis obras que constituíram a sua oitava exposição de pintura. Dedicou-a ao Menino Jesus no “Presépio de Belém”, e pediu-lhe uma prenda no Natal de 2003… que o levasse novamente a Fátima.

Anjo Azul

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Exposiçao "A Pintura de Vincent: uma forma de expressao" - Espaço LabMED - Porto - 2002


“Como psicóloga, e tendo acompanhado a evolução do trabalho desta criança com síndroma autista, desde a altura em que utilizava as paredes da casa para pintar, pude constatar que o Vincent pinta de forma espontânea e autónoma, sem orientação do adulto. A pintura vem sendo uma forma gradualmente mais elaborada de realização de uma capacidade aparentemente inata, que felizmente encontrou no meio envolvente condições para se concretizar. Através dela o Vincent parece ter encontrado não apenas uma forma muito própria de comunicar com os outros, mas também de auto-realização e consequentemente de auto-organização e bem estar.”

Ana Isabel Aguiar
Psicóloga