domingo, janeiro 04, 2009

Exposiçao "O Presepio de Belem" - CTEC - Universidade Fernando Pessoa - Clinica de Saude Integral - Porto - Galeria Arca das Letras -Gondomar - 2003



Conto de Natal


Era uma vez um menino de oito anos, que dava pelo nome de Vincent. Não era um menino como os outros. Diziam que vivia num mundo à parte, e que sofria de uma doença com um nome esquisito… síndrome de espectro autista.
Esse menino adorava pintar.
A pintura era a sua forma de comunicar aos outros tudo aquilo que lhe ia na alma, e que ele não podia transmitir por palavras. Um mundo de cor, de imagens em movimento, de personagens e decors imaginados, mas mais reais que a realidade do comum dos mortais.
Muitos pensavam que ele não compreendia o que o rodeava, mas estavam completamente enganados. O Vincent percebia o que todos viam e aquilo que só poucos tinham a sensibilidade para captar.
Sempre estive com o Vincent e assisti ao desenrolar dos seus ainda poucos, mas intensos, anos de vida marcados pela doença e por muita pintura.
A sua mãe rezava pela sua cura e ensinava o Vincent a rezar.



Foram os dois a Fátima, em peregrinação, duas vezes, acompanhados pelo pai do Vincent. Na primeira vez, tinha o Vincent três anos, e na segunda, quatro. Na primeira viagem, sua mãe consagrou o seu filho à Virgem suplicando-lhe que o curasse. A segunda viagem fez parte da promessa, que a sua mãe tinha formulado da primeira vez em Fátima e ocorreu em agradecimento de uma grande graça concedida ao Vincent. Tal promessa consta de uma terceira parte que virá a ser cumprida depois do Vincent começar a falar.



O Vincent gostou muito de Fátima. Adorou a procissão das velas, os cânticos, o badalar dos sinos e todo o ambiente de devoção. Achou a imagem da Virgem muito simpática e apreciou a recitação do terço em várias línguas. Conheceu toda a história de Fátima no Museu de Cera. Felizmente, os pais lhe ofereceram-lhe uma cassete vídeo sobre Os Três Pastorinhos, que o Vincent viu e reviu dezenas de vezes.
Todos os anos, o Vincent assistia, pela televisão, às cerimónias de Fátima do mês de Maio, recordando com saudade os momentos que lá tinha passado com os pais, e esperando pacientemente pela terceira vez que iria lá voltar.

A mãe do Vincent falava-lhe muitas vezes de Jesus e de sua Mãe Maria. Todos os dias rezava o terço meditado com o Vincent, relembrando os momentos principais da vida de Cristo. O Vincent sabia de cor todos os mistérios. Como a sua mãe também lia a Bíblia diariamente, o Vincent conhecia os episódios mais importantes do Antigo e do Novo Testamento. Mas a parte que ele preferia dizia respeito a Moisés, quando da travessia do Mar Vermelho pelo povo hebreu. No filme “Moisés, O Príncipe do Egipto”, quase que colava a cara à televisão durante a cena da “Separação das Águas”.



Para mostrar à sua Mãe, e a todos que compreendia tudo aquilo que ela lhe contava, o Vincent decidiu pintar sobre a vida de Jesus, de Maria e de Moisés. Traduziu em quadros as estâncias do terço que mais o impressionaram, como a “Anunciação”, “A Apresentação do Menino no Templo”, ou ainda a “Coroação de Espinhos”, a “Crucificação” e o “Calvário”. Invocou o “Único Mandamento” e o “Cálice da Aliança”. Retratou “As Três Divinas Pessoas”, e “O Divino Mestre”. Interpretou a “Súplica do Anjo”, e revelou o “Anjo Azul” e o “Anjo Vermelho”. Por fim, mostrou o que há-de vir… a “Purificação”, o “Homem Cósmico”, “Um Novo Céu e Uma Nova Terra”, um novo Mundo… de Paz, de Amor, onde a doença e o ódio não existem.

E foi assim que o Vincent realizou as vinte e seis obras que constituíram a sua oitava exposição de pintura. Dedicou-a ao Menino Jesus no “Presépio de Belém”, e pediu-lhe uma prenda no Natal de 2003… que o levasse novamente a Fátima.

Anjo Azul

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